sábado, 18 de abril de 2009

Procura-se um autor (parte 4)



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Gramática Portuguesa


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam noelevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anosbem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido,feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicadonominal.Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeitooculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmesortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, numlugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a seinsinuar, a perguntar, a conversar.O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequenoíndice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensouo substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Poucotempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça ase movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar dosubstantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seuaposto.Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonéticaclássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e umhiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quandoele começou outra vez a se insinuar.Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamentechegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar numtransitivo direto.Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seuditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem umperíodo simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando elaconfessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ououtra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essaspalavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comumde dois gêneros.Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimose substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessapróclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era umperfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seugrande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriurepentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo,e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheramgramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao veraquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verboauxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todoo edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjuntoadnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era umsuperlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisamaiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foichegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seutritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condiçõeseram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio dosubstantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depoisdessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final nahistória: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela evoltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigofeminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva



Segundo informações essa redação seria de uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federalde Pernambuco (Recife), e teria vencido um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

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